15. Wood Works, The Danish String Quartet (Dacapo, 2014)
Canções escandinavas, mudadas para quartetos, perguntadas em elipse ao tempo; uma delas uma canção de casamento de uma ilha norueguesa, velha de 400 anos. Florestas, raizes e o futuro: todos parecem casar-se em longos barcos pelo gelo, casas infindas feitas por mãos gastas. E a noite: uma dança entre o sol e a lua.
Formados na música clássica (e tendo assinado albuns Haydn/ Brahms soberbos), dotados de uma liberdade larga, começaram aqui uma sequência de albuns-viagem.
Este disco é uma descoberta, uma pergunta, uma dança fora do tempo. Fiz tantas ruas dentro dele, como se o chão fosse uma cidade de madeira e gente que vive mais dentro que o tempo viesse ajudar-me a encontrar o que está mais longe.
Por vezes esqueci-me até que ouvia. Ou melhor: era tão natural que esquecia que era música.
16. Mozart, Concerto para Violino Nº3, Viktoria Mullova (Philips)
Foi um ano de construir equilíbrios.
Muitas vezes precisava apenas desta música certa. Desta música que vinha da infância de Mozart tão certeira como vinha da minha, onde comecei a ouvir música. Não fazia mal que associada viesse a lembrança de como o violino e eu nos matámos na minha adolescência, e as feridas de perfeição que me deixou durante tantos anos. Mas talvez essa dor voltasse, e feita música, limpasse mais dentro o dia e as âncoras que me ligavam a espaços donde não nascia. Luz, tão feita das sombras, e fome de música, tão precisada pela repetição feia de alguns dias: fui pobre a esta música e voltei estruturado.
17. Per Nørgård, Sinfonia Nº2
Tudo começou a 26 de dezembro de 2016. Comprei o CD na "Foyles", onde vou sempre quando vou a Londres, e de onde trago tanto mais do que gasto. Decidi sentar-me pela centésima vez a tentar começar algo que há anos não conseguia.
Fiz algo que nunca faço: pus a tocar esta música que nunca tinha ouvido. Música contemporânea comprada sem uma audição prévia, sem nenhuma referência, que queria ter experimentado comigo, sozinho, a música e eu.
Gostaria de escrever sobre ela, mas não consigo. É o início do mundo, ou da música.
Olhando para um ano que passou, vejo claro: tudo começou nesta música. Um novo ciclo, uma nova vida. A aprender a ouvir de novo, a parar.
Canções escandinavas, mudadas para quartetos, perguntadas em elipse ao tempo; uma delas uma canção de casamento de uma ilha norueguesa, velha de 400 anos. Florestas, raizes e o futuro: todos parecem casar-se em longos barcos pelo gelo, casas infindas feitas por mãos gastas. E a noite: uma dança entre o sol e a lua.
Formados na música clássica (e tendo assinado albuns Haydn/ Brahms soberbos), dotados de uma liberdade larga, começaram aqui uma sequência de albuns-viagem.
Este disco é uma descoberta, uma pergunta, uma dança fora do tempo. Fiz tantas ruas dentro dele, como se o chão fosse uma cidade de madeira e gente que vive mais dentro que o tempo viesse ajudar-me a encontrar o que está mais longe.
Por vezes esqueci-me até que ouvia. Ou melhor: era tão natural que esquecia que era música.
16. Mozart, Concerto para Violino Nº3, Viktoria Mullova (Philips)
Foi um ano de construir equilíbrios.
Muitas vezes precisava apenas desta música certa. Desta música que vinha da infância de Mozart tão certeira como vinha da minha, onde comecei a ouvir música. Não fazia mal que associada viesse a lembrança de como o violino e eu nos matámos na minha adolescência, e as feridas de perfeição que me deixou durante tantos anos. Mas talvez essa dor voltasse, e feita música, limpasse mais dentro o dia e as âncoras que me ligavam a espaços donde não nascia. Luz, tão feita das sombras, e fome de música, tão precisada pela repetição feia de alguns dias: fui pobre a esta música e voltei estruturado.
17. Per Nørgård, Sinfonia Nº2
Tudo começou a 26 de dezembro de 2016. Comprei o CD na "Foyles", onde vou sempre quando vou a Londres, e de onde trago tanto mais do que gasto. Decidi sentar-me pela centésima vez a tentar começar algo que há anos não conseguia.
Fiz algo que nunca faço: pus a tocar esta música que nunca tinha ouvido. Música contemporânea comprada sem uma audição prévia, sem nenhuma referência, que queria ter experimentado comigo, sozinho, a música e eu.
Gostaria de escrever sobre ela, mas não consigo. É o início do mundo, ou da música.
Olhando para um ano que passou, vejo claro: tudo começou nesta música. Um novo ciclo, uma nova vida. A aprender a ouvir de novo, a parar.
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