Sento-me no Domingo mais manhã, no U7 entre Rathaus Neukölln e Adenauerplatz, como tantas vezes antes. A manhã é de um largo Julho ainda desprometido. Gente de todos os lados para todos os lados, como em nenhuma cidade tão vária e tão de aqui.
Sento-me e escrevo. É uma forma de andar, de ver.
À minha frente senta-se um casal. Ele de barba grisalha e olhos azuis, ela de cabelo escorrido e calças às flores. Um odor a sapatos usados e uma expressão de fome desordenada. Sacos azuis, dois, um telemóvel velho. Noto que me olham. Ao levantar os olhos para ver onde estou (perco-me sempre no U7, e é sempre em Bayerischer Platz de afectiva má memória), e o homem olha-me e pergunta-me:
- Was schreibst Du? Turkisch?
Não oiço ("A Arte da Fuga" nos ouvidos), e ele volta a perguntar fazendo que escreve, quando desimpeço um ouvido.
Aceno que não e volto a pôr o auscultador, Bach por Marriner. Mas digo para mim: "Estou em Berlim. Já me esqueci que as histórias aqui não páram de me procurar assim?".
Eles continuam ineressados em saber:
- Turkish?
Ele não tem dentes, mas percebe um pouco de Alemão. Ela, nada. Olha-me com os olhos pesados, rodeados de cansaço ou até de angústia.
- Portugiesisch - digo. Não entendem.
- In die nahe von Spanien (ao lado da Espanha). Não entendem.
- Por-tu-gal.
- Ah: Portugalia.
São romenos ou búlgaros, percebi logo. Diz-me ele:
- Bulgaria.
Sorri.
- Gute schreibung (boa escrita) - acrescenta, apontando para a cabeça. Sorrio. Acabo o parágrafo. Saio e digo-lhes adeus. Na escrita encontramo-nos todos, mesmo sem língua comum.
Sento-me e escrevo. É uma forma de andar, de ver.
À minha frente senta-se um casal. Ele de barba grisalha e olhos azuis, ela de cabelo escorrido e calças às flores. Um odor a sapatos usados e uma expressão de fome desordenada. Sacos azuis, dois, um telemóvel velho. Noto que me olham. Ao levantar os olhos para ver onde estou (perco-me sempre no U7, e é sempre em Bayerischer Platz de afectiva má memória), e o homem olha-me e pergunta-me:
- Was schreibst Du? Turkisch?
Não oiço ("A Arte da Fuga" nos ouvidos), e ele volta a perguntar fazendo que escreve, quando desimpeço um ouvido.
Aceno que não e volto a pôr o auscultador, Bach por Marriner. Mas digo para mim: "Estou em Berlim. Já me esqueci que as histórias aqui não páram de me procurar assim?".
Eles continuam ineressados em saber:
- Turkish?
Ele não tem dentes, mas percebe um pouco de Alemão. Ela, nada. Olha-me com os olhos pesados, rodeados de cansaço ou até de angústia.
- Portugiesisch - digo. Não entendem.
- In die nahe von Spanien (ao lado da Espanha). Não entendem.
- Por-tu-gal.
- Ah: Portugalia.
São romenos ou búlgaros, percebi logo. Diz-me ele:
- Bulgaria.
Sorri.
- Gute schreibung (boa escrita) - acrescenta, apontando para a cabeça. Sorrio. Acabo o parágrafo. Saio e digo-lhes adeus. Na escrita encontramo-nos todos, mesmo sem língua comum.
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