
Quero ter cada dia esse mesmo regresso: da Galiza ao Algarve este idioma cantante e áspero, vogal de azuis de Lisboa a Tavira; como os Açores, milagroso e montanhoso; como Mértola, uma surpresa de água, heranças e civilizações sobrepostas. Quero sempre regressar a esta casa, a língua onde nasci e expando a saudade de ser. Quero ouvir escrita a língua interior de hoje. Páginas e páginas como praias que vêm visitar-me donde fui a onde serei.
É a estas páginas que não quero nunca terminar de regressar, todos os dias, com excesso de peso como uma fome. Como quem está longe, e fala consigo mesmo num idioma mais sonhado, e percebe que a sua beleza é real.
Penso nisto e recordo-me de uma história. Em Berlim tive como colega um nigeriano chamado Benjamin. Ele estava sozinho em Berlim há anos. Perguntei-lhe se falava a sua língua materna frequentemente. "Não a falo há quinze anos ao vivo. Só com a minha mãe ao telefone, lá longe. Tenho saudades de ver a minha mãe falar".
A língua onde nascemos é a mais longa casa.
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