morreu o Herberto, e se eu soubesse toda a altura de escrever, saberia escrever sobre isso.
quero celebrá-lo em duas memórias. a primeira vez que li um poema dele. tinha vinte anos. o diogo abria o livro e começava a ler: "a manhã começa a bater no meu poema". ouvi o sangue, subia, era a sua própria escada, um desenho de Deus à beira-mar, a sede toda água e Mãe. era a voz da poesia mesma, como numa ilha levantada à borda do mar Jónio, numa noite de céu arrasado numa viela em Bruxelas, bêbado de Mahler, no coração rápido de Berlim; era uma lenda índia trazida por um grifo assírio, derramada em fogo numa floresta em gelo. mais do que poesia, era uma coordenada, o que se vê para além da língua.
depois, da única vez que nos encontrámos. as palavras que me disse sobre biofagia, que então tinha publicado, e que o Jorge Henrique Bastos lhe tinha levado. guardo-as para mim, bem como a uma longa conversa sobre José Régio, sacristias, anjos e ratas.
um poema não morre. como um cabo no…
quero celebrá-lo em duas memórias. a primeira vez que li um poema dele. tinha vinte anos. o diogo abria o livro e começava a ler: "a manhã começa a bater no meu poema". ouvi o sangue, subia, era a sua própria escada, um desenho de Deus à beira-mar, a sede toda água e Mãe. era a voz da poesia mesma, como numa ilha levantada à borda do mar Jónio, numa noite de céu arrasado numa viela em Bruxelas, bêbado de Mahler, no coração rápido de Berlim; era uma lenda índia trazida por um grifo assírio, derramada em fogo numa floresta em gelo. mais do que poesia, era uma coordenada, o que se vê para além da língua.
depois, da única vez que nos encontrámos. as palavras que me disse sobre biofagia, que então tinha publicado, e que o Jorge Henrique Bastos lhe tinha levado. guardo-as para mim, bem como a uma longa conversa sobre José Régio, sacristias, anjos e ratas.
um poema não morre. como um cabo no…